Biografia
Rubem Fonseca é romancista, contista e roteirista de cinema. Sua farta produção literária se insere numa tradição de trabalho intenso com a forma narrativa, questionando o próprio fazer ficcional. Sua prosa reflete sobre si mesma. Noções como autor, narrador, personagem são temas de sua escrita.
Em Bufo & Spallanzani não é diferente. A personagem protagonista e também narradora escreve um livro intitulado Bufo & Spallanzani. E necessário, no entanto, estabelecer a diferença entre o escritor Rubem Fonseca, que assina e tem seu nome na capa do livro, e o narrador-personagem que escreve um livro homônimo do livro que o contém. A maioria das obras de Rubem Fonseca apresenta esse processo de desconstrução da estrutura narrativa. Desconstrução porque o escritor vai apontando, no interior da narrativa que escreve, as convenções de seu oficio, colocando o leitor a par da complexidade do processo. Trata-se, também, de característica da obra literária contemporânea, o que torna este escritor um cânone da literatura brasileira, traduzido com muito sucesso na Europa e nos Estados Unidos.
Resumo
Bufo & Spallanzani é um romance repleto de citações de e sobre outros autores e livros, além de muitas digressões sobre a arte de escrever narrativas. Enfim, tal obra literária está, sempre que possível, fazendo referências à própria literatura, o que, em outras palavras, costumamos chamar de exercício da função metalingüística.
lvan Canabrava narra acontecimentos de sua vida em flash-back. ora a nós leitores ora a Minolta, sua namorada, amiga, amante e confidente. Várias histórias se entrelaçam, se misturam, nesse enredo de Rubem Fonseca. O livro se divide em cinco grandes partes:
Foutre ton encrier,
Meu passado negro,
O refúgio do Pico do Gavião,
A prostituta das provas e
A maldição.
Essas partes correspondem a episódios da vida do narrador. Cada uma delas poderia ser independente caso não houvesse um fio narrativo condutor.
No primeiro episódio, Foutre ton encrier, o escritor Gustavo Flávio conta a Minolta sua relação com Madame X. Compõe-se de seis capítulos.
Madame X, mais tarde revelada como Delfina Delamare, é uma bela e casada grã-fina por quem o narrador se apaixona. Delfina é encontrada morta. O detetive Guedes suspeita de Gustavo Flávio, porém não tem provas contra ele. A princípio, levanta a hipótese de suicídio, porém após os exames periciais comprova-se o homicídio.
O marido de Delfina, o ricaço Eugênio Delamare, tem interesse na idéia de homicídio.
No capitulo 5, Gustavo Flávio revela a identidade de Madame X a Minolta. Conta também que recebera, antes da morte de Delfina, a visita ameaçadora do marido traído.
No último capitulo. Gustavo Flávio é convidado a depor como um dos suspeitos do assassinato de Delfina Delamare.
O segundo episódio - Meu passado negro - volta ao passado de Gustavo Flávio. Antes de ser Gustavo Flávio, o escritor havia sido professor primário, amante de Zilda. Seu nome: lvan Canabrava. lvan passa a trabalhar numa firma de seguros, que deverá pagar um prêmio altíssimo a Clara Estrucho, viúva de Maurício Estrucho, que fez o seguro poucos meses antes de morrer. Desconfiado, lvan começa a investigar o caso. Descobre, no lixo encontrado no apartamento abandonado do casal Estrucho, um sapo morto e um ramo de flores murchas. Com a ajuda de Ceresso, presidente da Associação Brasileira de Proteção ao Anfíbio, lvan Canabrava descobre também que o veneno do sapo, da espécie Bufo marinus, associado ao sumo da planta, causa catalepsia profunda. Excitado pela descoberta da fraude, lvan não percebe o descaso de seu chefe e entrega-lhe o relatório completo de suas investigações. No entanto, sob suspeita de loucura, lvan não tem crédito e parte para a experiência da catalepsia. Mesmo com seu próprio atestado de óbito, lvan não consegue convencer o chefe.
Não desiste, porém: vai ao cemitério acompanhado por Minolta, Siri e Maria, seus amigos hippies, para abrir o túmulo onde estaria Maurício Estrucho.
Na ocasião são surpreendidos pelo coveiro e, para calá-lo, lvan o agride, matando-o sem querer. lvan é preso e considerado louco. Vai para o Manicômio Judiciário, de onde foge com a ajuda de Minolta e Siri.
Passa então dez anos escondido com Minolta. lvan Canabrava adota o pseudônimo de Gustavo Flávio (uma homenagem ao escritor francês Gustave Ftaubert), engorda trinta quilos, torna-se escritor famoso e aprende a amar as mulheres.
Por sugestão da sua segunda companheira, volta ao Rio de Janeiro. No final da segunda parte, o narrador retoma o relato sobre seu romance com Delfina Delamare.
Minolta observa que o escritor está sentindo dificuldades para começar a escrever seu romance Bufo & Spallanzani e sugere a Gustavo Flávio que se recolha ao Refúgio do Pico do Gavião.
O terceiro episódio poderia constituir-se em outro história, não fosse também vivenciada por Gustavo Flávio.
O Refúgio do Pico do Gavião refere-se à conturbada estada do escritor nesse lugar. Há outros hóspedes: um elegante casal de bailarinos, Roma e Vaslav; um maestro e sua esposa prima-dona, Orion e Juliana Pacheco; um rapaz magro e tímido, Carlos; duas "primas", Suzy e Euridice, que são, na verdade, amantes.
Além dos hóspedes, outras personagens participam da trama: Trindade, proprietário do lugar, e D Rizoleta, sua mulher.
Numa conversa entre os hóspedes, o maestro questiona o talento dos artistas literário defendendo a idéia de que qualquer um pode ser escritor.
A isso Gustavo Flávio responde com um desafio: dá um tema aos presentes, que deverão desenvolvê-lo numa narrativa e apresentá-lo. O maestro, Roma e Suzy aceitam o desafio.
O escritor escreve as primeiras linhas de Bufo & Spallanzani: é uma história de homens e sapos.
A propósito, começa a perceber-se a ligação do romance com o titulo: Bufo marinus é a espécie de sapo encontrada por lvan Canabrava; Spallanzani foi um biólogo italiano do século XVIII que estudava a circulação sanguínea, a digestão e os animais microscópicos. A Experiência que o escritor deseja relatar em seu romance tem como personagens dois sapos, Bufo e Marina (qualquer semelhança será mera coincidência?), cobaias de Spallanzani. Ao mesmo tempo, os hóspedes do Refúgio separadamente mostram a Gustavo Flávio suas narrativas que, segundo o narrador, são autobiográficas.
Constata-se que realmente escrever é muito difícil. Durante este episódio, acontece outro crime: Suzy é encontrada morta. Ao mesmo tempo, Minolta recebe um aviso sobrenatural e resolve procurar Gustavo Flávio no Refúgio. O detetive Guedes também vai ao encontro de Gustavo Flávio.
O quarto episódio divide-se em três capítulos: neles começa a ser desvendado o assassinato de Delfina. Guedes descobre que o assassino confesso não matara a grã-fina e deixa-o em liberdade. O farsante fora pago por Eugênio Delamare, o marido traído, para que o caso fosse encerrado na policia.
Guedes, em suas andanças pelo local do crime, encontra Dona Bernarda e seu cão Adolfo. Ela é a testemunha de que Guedes precisa para incriminar Gustavo Flávio.
A última parte, intitulada A maldição, está reservada para o clímax e o desenlace. Ë dividida em oito capítulos. No primeiro capítulo, o narrador faz considerações sobre o gênero do romance em geral. Faz também reflexões sobre a dificuldade de concluir-se uma história.
No segundo capitulo, o relato do Refúgio do Pico do-Gavião é retomado. Descobre-se que o assassino de Suzy é Euridice e que Carlos é a Maria da narrativa que Suzy contara tendo como mote o tema dado por Gustavo Flávio. Segundo Suzy, Maria era casada com José. Os dois fizeram um pacto de amor: quem traísse o companheiro seria morto pelo outro. Maria, então, por ter atentado contra a vida do marido, disfarçara-se em Carlos. Após solucionado o caso, as personagens retornam ao Rio de Janeiro.
Guedes avisa a Gustavo Flávio que passará em sua casa. Na visita, Guedes comunica a Gustavo Flávio que o vigarista preso pelo crime da ricaça havia sido assassinado e que a vítima seguinte seria ele.
Gustavo Flávio, então, arma-se e aguarda o marido enganado. Nesse interím, o escritor apaga de seu computador os dados do arquivo para o romance que tentara escrever.
Eugênio Delamare consegue aprisioná-lo e corta suas bolsas escrotais. Durante a tortura, Guedes chega com policiais. Após o tiroteio, Guedes e Gustavo Flávio sobrevivem, os demais morrem.
Finalmente, Gustavo Flávio conta a Minolta quem é o verdadeiro assassino de Delfina. Quando Delfina descobrira que tinha leucemia, decidira que não acabaria da maneira suja, dolorosa e humilhante que a morte escolhera para ela. Resolvera matar-se. Mas a coragem lhe faltava. Convencera, então, Gustavo Flávio a fazer isso por ela. Confessando pormenorizadamente o crime, tenso, ele termina a narrativa dirigindo-se a Minolta.
Ë importante compreender o desdobramento da personagem protagonista para articular os episódios entre si. O fio narrativo, que corresponde ao fato transformador da vida de lvan, encontra-se na figura do sapo. Bufo, além disso, possui outro sentido: significa, segundo o dicionário do Aurélio, "ator ou personagem de comédia ou farsa encarregado de fazer rir o público com mímicas, esgares etc.-". Desde o início da narrativa, o narrador se denomina glutão, sátiro e atacado por satiríase. Sátiro, convém lembrar, é, na mitologia pagã, um semideus lúbrico habitante das florestas, e que tinha chifres curtos e pés e pernas de bode; no sentido figurado significa homem devasso, luxurioso, libidinoso. Satiríase, por sua vez, é um termo da área médica, que significa excitação sexual masculina mórbida. Pode-se fazer, portanto, uma relação entre o impulso de escrever e o impulso ou excitação sexual. A narrativa parece jorrar, em sua complexidade, como um jato em que as partes se articulam e apresentam o quadro fabular e suas personagens.
Tema
A temática de Bufo & Spallanzani é o próprio fazer literário, ou seja, é a história do nascimento de um romance que vai sendo contada.
ENREDO/TRAMA
O escrito Gustavo Flávio começa narrando um sonho que tivera com Tolstoi. Tolstoi, como sabem, é um grande escrito russo, autor de Guerra e Paz, de quem o narrador recebe a incumbência de escrever.
A alucinação envolve o tinteiro e a pena (metonímias do ato de escrever), que provocam no escritor a angústia de não conseguir repetir o gesto de molhar a pena no tinteiro tantas vezes quantas forem necessárias para encher páginas vazias. É a chave para entender o enredo do romance.
Talvez não seja adequado falar em romance, mas em memórias. E o próprio narrador que assim se manifesta: "As memórias, como estas que escrevo, também sofrem a sua maldição." (FONSECA, p. 181). Enquadra-se no gênero memorialista, portanto, a forma narrativa escolhida pelo narrador. O narrador escreve memórias de sua vida, lembrando os acontecimentos vividos por ele como lvan Canabrava e como Gustavo Flávio.
O narrador é Gustavo Flávio, pseudônimo de lvan Canabrava, que se escondera por ter praticado um crime e fugido do Manicômio Judiciário.
O escritor famoso Gustavo Flávio precisa entregar a seu editor o livro Bufo & Spallanzani, pelo qual até já recebera adiantado. Vê-se envolvido no assassinato de uma mulher rica e é interrogado pelo detetive Guedes. Por sugestão de Minolta, afasta-se da cidade e hospeda-se no Refúgio do Pico do Gavião. Novamente acontece um crime: uma hóspede é assassinada. Esses relatos compõem a trama do romance. No entanto, a principal trama reside no relato da vida de lvan Canabrava, a personagem-protagonista. lvan Canabrava é amante de Zilda, com quem mora. Tendo vinte anos, abandona seu cargo de professor primário para trabalhar numa companhia de seguros. Desconfiado de uma fraude de um cliente que morrera poucos meses após o contrato, lvan descobre no lixo do apartamento da viúva um sapo morto e um ramo de flores murchas. Descobre também que o sapo é da espécie Bufo marinus e as flores pertencem à planta Pyrethrum parthenium, da família das compostas. Associados, formam uma mistura que provoca o zumbinismo, estado em que ficam as pessoas sob a ação de tal substância. O estado cataléptico pode ser prolongado.
Com essas informações, lvan desvenda a fraude planejada pelo casal Estrucho, porém suas investigações e denúncias são abafadas. Supõe-se que o chefe de lvan seja cúmplice dos criminosos.
Com o intuito de desvendar o crime, lvan tenta abrir o túmulo para provar que não há cadáver enterrado, porém é surpreendido pelo coveiro. Assustado, lvan mata o coveiro. Fogem, ele e Minolta, mas é preso em casa. Vai para o Manicômio Judiciário.
Minolta e Siri facilitam a fuga de lvan. E assim que, refugiado com Minolta durante dez anos, transforma-se no escritor Gustavo Flávio. De volta à cidade, Gustavo Flávio tem vários casos de amor.
O último acontece com uma mulher rica, esposa de um herdeiro de família conceituada.
Essa mulher é assassinada, entrando na trama o detetive Guedes, que suspeita do escritor. Para escrever as memórias, o narrador reúne episódios de sua vida que justificam a história de sapos e homens. O sapo é o mote dado pelo escritor aos hóspedes do Refúgio que aceitam o desafio de escrever. Cada história tem cunho autobiográfico, embora o tema do sapo seja mantido.
No caso do romance Bufo & Spallanzani, o mote é a escritura de um romance cujo tema seja a relação entre sapos e homens.
Foco Narrativo
O romance é narrado em primeira pessoa. O foco narrativo, portanto, é o da personagem-narradora, o escritor Gustavo Flávio.
PERSONAGENS
As personagens do romance Bufo & Spallanzani podem ser estudadas segundo seu aparecimento nos episódios.
As personagens principais são:
lvan Canabrava, Gustavo Flávio, Minolta, Guedes, Delfina Delamare e Eugênio Delamare. Os demais são personagens secundárias. Seus traços físicos e psicológicos são fornecidos pela visão do narrador.
Gustavo Flávio: personagem-protagonista. E o narrador do romance. Glutão e sátiro, pesa mais de cem quilos e mede mais de um metro e noventa centímetros. Gustavo Flávio começa relatando a Minolta, sua amante, o caso que tivera com Madame X. Ë através dos olhos e dos sentimentos do narrador-protagonista que são apresentados os elementos constitutivos da narrativa. É interessante como funciona seu ponto de vista em relação ao detetive Guedes: o narrador é impotente face ao pensamento alheio e por isso trata de "elucidar" o que se passa com as demais personagens sobre as quais o narrador não tem controle.
Em algumas cenas relatadas, tem-se a impressão de que o narrador é onisciente, principalmente quanto Guedes. Nesse caso, o narrador comporta-se como se fosse onisciente e onipresente. Mas de pronto desfaz-se o engano. Assim diz o narrador, no início da narrativa: "Estou relatando incidentes que não presenciei e desvendando sentimentos que podem até ser teoricamente secretos mas que são também tão óbvios que qualquer pessoa poderia imaginá-los sem precisar dispor da visão onisciente do ficcionísta." (FONSECA, p. 17). Ou seja, o narrador tenta explicar porque relata os fatos como se fosse onisciente. Gustavo Flávio torna-se suspeito do assassinato de Delfina Delamare. Durante a narrativa, vê Guedes como seu inimigo. Ele próprio se considera um bufo, fazendo sexo compulsivamente e não sentindo dor quando cortam seus culhões. Tal como o sapo de sua própria narrativa, quando Spallanzani queima as pernas do batráquio durante sua cópula com a fêmea, Gustavo Flávio também não sente a dor durante sua castração. Para ele, o tesão é superior à dor. E salvo pelo detetive Guedes.
lvan Canabrava: é a personagem que protagoniza o episódio Meu passado negro. E a identidade verdadeira de Gustavo Flávio. lvan Canabrava é professor primário, alto, magro, frugal e virgem. Chega a ser ingênuo quando diante da indiferença de seu chefe quanto a fraude por ele descoberta, passa pela experiência da catalepsia para provar sua tese. E corajoso, tem espírito investigador e consegue desvendar o mistério sobre a morte do cliente da companhia de seguros. Mata um homem, é preso no Manicômio Judiciário, de onde escapa com a ajuda de Minolta e Siri. E ele da história do Bufo marinus, o sapo que dá titulo ao livro.
Minolta: personagem também principal, tem um papel importante na vida de Gustavo Flávio. Hippie, praticante de alimentação alternativa, Minolta representa a liberação dos sentidos. É através dela que ocorrem as transformações na vida da personagem-protagonista. Grande incentivadora da arte literária, é poeta e estimula lvan a escrever livros. Também é ela que procura os editores. Pode-se dizer que é a criadora de Gustavo Flávio que, durante a narrativa, insiste sobre a importância de Minolta nas mudanças ocorridas em sua vida. Minolta funciona como confidente de Gustavo Flávio. É a ela que o narrador confessa ser o assassino de Delfina.
Guedes: detetive da Delegacia de Homicídios. Na visão do narrador é um tira sebento, porém honesto. Não se deixa corromper por Eugênio Delamare. E uma personagem também importante, sendo antagonista, uma vez que durante a narrativa suspeita que Gustavo Flávio seja o assassino de Delfina. Sua presença na narrativa é marcante para o narrador pois, mesmo sendo seu antagonista, Gustavo Flávio identifica-se com ele devido á sua persistência e curiosidade, além, é claro, da capacidade de juntar pistas. Guedes, no desenlace, também demonstra afetividade por Gustavo Flávio, avisando-o sobre os planos de Delamare e salvando-o de suas mãos.
Delfina Delamare: é a Madame X no relato de Gustavo Flávio a Minolta. É considerada a cinderela órfã que se casara com o milionário Eugênio Delamare. Moça romântica, recatada, Delfina Delamare "não era uma mulher opulenta, mas seu corpo tinha um grande esplendor; pernas, nádegas e seios eram perfeitos." (FONSECA, p. 8). Arquiteta o suicídio, porém induz Gustavo Flávio a praticar o gesto misericordioso. Doente de leucemia, só lhe resta a morte que escolher. É uma das personagens principais, antagonista, porque participa de fatos que desencadeiam o desenvolvimento do enredo. Mesmo sendo amante de Gustavo Flávio, sua posição é antagónica ao personagem protagonista.
Eugênio Delamare: personagem antagonista, é o marido enganado. Homem de muitas posses e prestígio social, na visão do narrador é também muito perigoso, capaz de contratar assassinos profissionais para matar Gustavo Flávio. Ameaça-o e cumpre a promessa, só não consegue castrá-lo inteiramente porque é impedido por Guedes. Seus esforços na tentativa de mascarar a verdadeira versão do homicídio de sua esposa são sempre frustrados por Guedes. Até o homem pago por Eugênio para se passar pelo assassino é convencido por Guedes a desistir do plano e fugir. Enfim, é uma personagem importante para a sequência dos fatos até o desenlace E um dos suspeitos pela morte da esposa. No final, morto no tiroteio, a culpa do assassinato de sua mulher fica sendo mesmo dele.
Agenor da Silva: vigarista pago por Eugênio Delamare para confessar o assassinato de Delfina. E morto pela gangue do Jacaré, provavelmente como queima de arquivo. Ë personagem secundária.
As seguintes personagens secundárias fazem parte do episódio Meu passado negro:
Zilda: ex-amante de lvan Canabrava. Mulher chata e histérica. Através dela lvan consegue o emprego na companhia de seguros. Acusa lvan de louco.
Gomes: amigo de Zilda, consegue para lvan o cargo na firma de seguros. Favorece a versão da loucura de lvan.
Dr. Zumbano: superior de lvan na Panamericana de Seguros. Provável cúmplice do casal Estrucho.
Dr. Rabeiroles: advogado da firma de seguros.
Clara e Maurício Estrucho: Casal golpista que, segundo lvan Canabrava, planejara a fraude contra a Panamericana de Seguros. Durante o velório do marido, Clara é vista alimentando o defunto com um funil, fato relatado por alguém embriagado, portanto sem credibilidade. No lixo de seu apartamento, são encontradas as pistas de que lvan precisa para desvendar a fraude.
Ceresso: presidente da Associação Brasileira de Proteção ao Anfíbio. Auxilia lvan Canabrava a identificar a espécie do sapo e da planta encontrados no lixo dos Estrucho. Também é ele que consegue o sapo e a planta para lvan realizar a experiência.
As seguintes personagens secundárias fazem parte do episódio O Refúgio do Pico do Gavião:
Roma e Vaslav: casal de bailarinos que se hospeda no Refúgio.
Orion e Juliana: ele maestro, ela sua esposa prima-dona, são também hóspedes do Refúgio,
Suzy e Eurídice: 'primas" que mantém uma relação de amor e ódio. Suzy é assassinada por Eurídice durante sua estada no Refúgio.
Carlos: personagem ambígua. Descobre-se que é mulher disfarçada de homem. Ë o pivô da morte de Suzy.
Trindade e Rizoleta: casal anfitrião do Refúgio do Pico do Gavião.
Ermitão: personagem que vive solitário na montanha, alimentando gaviões. E suspeito pela morte de Suzy. No entanto, ele testemunhara o assassinato conseguindo desvendar o crime.
Os demais personagens secundários só tem relevância na medida em que são apenas citados na narrativa ou são figurantes na narrativa, Para as ações e a sequência de fatos sua importância é mínima.
AMBIENTE FÍSICO E CULTURAL
A história ambienta-se na cidade do Rio de Janeiro. Apenas o episódio do Refúgio do Pico do Gavião é vivenciado na montanha. E uma história repleta de crimes, embora não seja desenvolvida no submundo. Pode-se mesmo dizer que a trama é vivenciada por personagens da classe média brasileira.
CLÍMAX
O clímax acontece quando Eugênio Delamare consegue prender Gustavo Flávio com a ajuda de capangas. A partir daí, a narrativa se encaminha para o desenlace: Gustavo Flávio sangra porque é capado, mas é salvo pela chegada de Guedes com dois policiais. Eugênio Delamare e os capangas morrem, juntamente com os dois policiais.
ANÁLISE
Aparentemente Bufo & Spallanzani; é um romance policial. Sob esse disfarce, Rubem Fonseca faz um pastiche do gênero policial, uma vez que descontrói o gênero fazendo uso dele mesmo. Mas, longe de ser apenas um romance policial, Rubem Fonseca nos apresenta uma narrativa complexa, inserida entre as melhores obras da narrativa contemporânea. Entre as características que sustentam esse raciocínio, pode ser citada a função metalingüística, através da qual o escritor reflete sobre seu ofício. Disso resulta o jogo em que ficção e realidade muitas vezes se contundem. No romance em questão, o narrador é escritor e precisa escrever um livro intitulado Bufo & Spallanzani. Ao final, Bufo & Spallanzani é o livro de memórias do escritor Gustavo Flávio. Ele não deve ser confundido como escritor Rubem Fonseca, O assassino desse peculiar romance policial não é o mordomo, mas o próprio narrador
BIBLIOGRAFIA
DONOFRIO Salvatore. Teoria do texto 1: prolegômenos e teoria da narrativa. São Paulo: Atica, 1995. 240p.
FONSECA. Rubem. Bufo & Spallanzani. 24.ed. revista pelo autor. São Paulo